“Museus no Fediverso” – Apresentação do Ibram-Museus no 1º WebSocialBR

É uma satisfação participar deste evento... será uma oportunidade para apresentar as reflexões e os experimentos que o Ibram-Museus realiza no tema das redes sociais descentralizadas.

Apresentamos abaixo, os slides e o texto da apresentação de José Murilo, representando o Ibram-Museus, no 1º WebSocialBR, em Brasília, 03/12/2025.

Museus no Fediverso​
Experimentos do Ibram-Museus com ​Tainacan, ActivityPub e WebSocial​

WebSocialBR - Brasília, 03/12/2025​
​O futuro das mídias sociais em debate​

É uma satisfação participar deste evento, quero agradecer a todas as pessoas envolvidas nesta realização. Será uma oportunidade para apresentar as reflexões e os experimentos que o Ibram-Museus realiza no tema das redes sociais descentralizadas. Queremos também escutar todas as iniciativas aqui apresentadas, e nos colocar a disposição para o diálogo efetivo em torno de ideias, estratégias, e aplicações em prol do desenvolvimento deste ambiente das redes sociais descentralizadas no âmbito da política pública.​

Por que o Fediverso?​

Crise das redes sociais centralizadas:​
- Vigilância agressiva para venda de anúncios​
- Impactos do algoritmo na saúde e bem-estar, sobretudo de jovens​
- Desinformação ameaçando democracias​

Particularidade brasileira:​
- Forte adesão às redes sociais​
- Oportunidade de política pública em larga escala​

Após a efetivação da compra do Twitter pelo Elon Musk, em 2023 culminou entre especialistas e políticos, no Brasil e no exterior, a percepção de que os serviços gratuitos prestados pelas redes sociais das BigTechs — contaminado com esquemas agressivos de vigilância para oferta de anúncios customizados — estariam prejudicando a saúde e o bem estar dos cidadãos usuários, especialmente os jovens. O problema da desinformação, por seu lado, estaria criando ameaças aos regimes democráticos. ​

Este cenário indesejável no ambiente das redes sociais, somado à predileção especial do brasileiro por este modo de comunicação online, nos levaram a imaginar que uma política pública para o campo, em um país com a escala do Brasil e aproveitando de um momento propício, poderia causar um efeito demonstrativo relevante. Por isso o Ibram entende que é oportuno a realização de um experimento com redes sociais federadas, e museus — instituições de memória.

Por que Museus no Fediverso? Tainacan...​

Em 2023: construção de capacidade para operar políticas públicas de Cultura Digital de maneira autônoma no Ibram​

Desenho institucional:​
- Sistemas de informação museal iluminados pela Ciência da Informação​
- Envolvimento ativo de museólogos, arquivistas e bibliotecários​

Resultados em 10 anos:​
- Versões em 12 línguas​
- +2.000 instâncias ativas​
- +40.000 downloads[(]​

O Ibram desde 2016 realiza importante parceria com a universidade pública no desenvolvimento do Projeto Tainacan. Trata-se de uma aplicação de repositório digital em software livre, especializado na publicação online de acervos digitais, que o Ibram apresenta como parte integrante do Programa Acervo em Rede – uma política pública baseada em software livre. ​

E aqui tenho que abrir um parêntese: a área de TI de uma instituição pública que desenvolve e oferece uma aplicação em software livre para o seu público, é absolutamente, completamente diferente de uma área de TI que cuida exclusivamente de contratos. Trata-se de uma outra vida. Fecha parêntese.

Na gestão iniciada em 2023, e especialmente com a reestruturação administrativa do Ibram, conseguimos expandir a escala dos serviços digitais oferecidos pelo Ibram para o campo museal. Para que isso se concretizasse, foi necessário acelerar a construção de capacidade no instituto em operar políticas públicas de Cultura Digital de maneira autônoma e para tal, foi crucial a cooperação com departamentos de Ciência da Informação na universidade pública. ​

Outro parêntese: a vinda do Prof. Dalton Martins, da UnB para o Ibram, para ocupar o cargo de Coordenador-Geral de Sistemas de Informação Museal (CGSIM), foi um grande diferencial. Trazendo a expertise da Ciência da Informação, Dalton protagonizou no Ibram a reunião da área de Tecnologia da Informação com a área de Sistemas de Informações Museais. Importante dizer também que Dalton coordena o Projeto Tainacan desde sua concepção, em 2015. Fecha parêntese.

O desenho institucional proposto para essa cooperação Ibram-Universidade favoreceu o envolvimento de jovens museólogos, arquivistas e bibliotecários na formulação e implementação de aplicações, e na ativação de redes para o campo museal. ​

Nestes 10 anos de desenvolvimento, uma medida do desempenho do Tainacan e de sua comunidade no campo da memória digital é o fato do software já ter versões em 12 línguas, contar com mais de 2 mil instâncias ativas e mais de 40 mil downloads.

O Primeiro Passo: Brasiliana Museus​

Janeiro de 2024: início do experimento​

Ações:​
- Ativação do plugin ActivityPub no WordPress da Brasiliana Museus​
- Primeiro post de um domínio gov.br no Fediverso​
- Comentários vindos do Fediverso registrados no próprio blog​

Significado: prova de conceito para uma web social aberta no setor público​

Para inaugurar a iniciativa dos Museus brasileiros no Fediverso, em Jan/2024 nós ativamos o plugin ActivityPub no site WordPress da Brasiliana Museus, e publicamos o primeiro post de um domínio gov.br na websocial, ou seja, no Fediverso. Comentários a este post, originados no Fediverso, foram registrados também na seção de comentários do post no blog da Brasiliana, demonstrando a possibilidade de integração de websites institucionais com o Fediverso.

É importante mencionar que a Brasiliana Museus é um serviço de agregação de coleções museológicas desenvolvido a partir do Tainacan, que se tornou base para o desenvolvimento de novas aplicações, como veremos adiante.

Tratou-se de um início, uma experimento singelo, mas nós consideramos que a iniciativa teve grande significado. Nossa esperança era que fosse o início de um processo transformador na maneira como nós, como pessoas e como instituições, nos conectamos online, e que pudesse proporcionar um aperfeiçoamento em nossa relação fundamental com o digital e com a web.​

Tainacan + WordPress + ActivityPub​

Tainacan e ActivityPub como plugins WordPress promovem a mágica​

Na prática:​
- Seleção do “tipo de item Tainacan” a ser publicado no Fediverso​
- Canal direto para difusão segmentada de patrimônio cultural​

Cada item de acervo:​
- Pode virar um post​
- Ou até um perfil próprio no Fediverso​

Aspectos técnicos: O Projeto Tainacan é desenvolvido no formato de plugin para WordPress, da mesma forma que o plugin ActivityPub, que conecta o WordPress ao Fediverso. O WordPress, por sua vez, é utilizado em 43,4% de todos os sites na internet, sendo a plataforma de gerenciamento de conteúdo mais popular do mundo. O ecossistema se expande na medida em que a comunidade aumenta a biblioteca de plugin disponíveis.

Não por acaso, recentemente o especialista Dave Winer, criador do formato RSS (formato XML para difusão aberta de conteúdos web), declarou que enxerga o WordPress como o “sistema operacional” ideal para a web social aberta.​

Logo que experimentamos o plugin ActivityPub do WordPress, percebemos como imediatamente podíamos escolher, na interface do plugin (imagem no slide acima), o tipo do post Tainacan que poderíamos selecionar para postagem no Fediverso.

Ou seja, o Tainacan, como num passe de mágica, passou a ter canal direto para difusão segmentada de conteúdos do patrimônio cultural para usuários assinantes. Naquele momento, nós da equipe Tainacan no Ibram ficamos impactados com o que passamos a poder imaginar em termos de novas aplicações do Tainacan para redes sociais descentralizadas.​

A partir daí, definimos como objetivo da iniciativa prover museus e demais instituições de memória com uma ferramenta que facilite a exploração das redes sociais descentralizadas como ambiente de difusão de seus acervos.

A partir de outros experimentos de museus no Fediverso, como é o caso do Museu do Aeroporto de San Francisco (SFOMuseumIniciativas em ActivityPub), percebemos que no caso dos acervos dos museus publicados em Tainacan, cada item poderia virar um post, ou mesmo um novo perfil no Fediverso — no caso, por exemplo, de bens museais de amplo interesse.​

Gestão de​ Públicos Online​

Reuso do core Tainacan para:​
- Registro de eventos no “Visite Museus”​
- Cadastro de instituições no “MuseusBR”​
- Módulo de Editais​

Pacote de Plugins integrados:​
- Aplicações para instituições públicas que promovem acesso ao conhecimento (A2K)​
- Customização que já inclua “porta direta” com o Fediverso​
- Os demais serviços (Cadastro, Eventos, Editais, Forum) também se integram ao Fediverso​

A partir da atuação das equipes de suporte e desenvolvimento do Tainacan no Ibram, viemos adaptando o core da aplicação para o desenvolvimento de outras funcionalidades além da agregação, como o registro de eventos no site “Visite Museus“, e para cadastro de instituições de memória, no serviço “MuseusBR“. Outra iniciativa planejada é o desenvolvimento do módulo de editais que completaria, juntamente com o Tainacan, o que consideramos um pacote de aplicações úteis para instituições públicas. O aspecto mais interessante é que estas novas aplicações, desenvolvidas no âmbito do ecossistema WordPress, da mesma forma como o Tainacan, imediatamente se integram ao Fediverso.

Por este motivo, entendemos que o momento é propício na comunidade Tainacan para abraçarmos a conexão com o Fediverso, e efetivamente explorar como as instituições de memória podem tirar o melhor proveito da open social web.​ O objetivo é prover as instituições que promovem acesso ao conhecimento com ferramentas atualizadas para a gestão de seus públicos online. ​

O Papel das Universidades​

Universidades como protagonistas da popularização do Fediverso​

Referência histórica:​
- Eco-92 e corrida pela instalação de servidores institucionais de email​

Tese:​
- Crise atual da internet = crise de institucionalidade​
- Necessidade de políticas públicas que favoreçam novas institucionalidades digitais​

Quando penso no desafio que é deslanchar um estratégia de popularização do Fediverso no Brasil, não posso deixar de pensar nas universidades como instituições melhor posicionadas para o protagonismo. Impossível não lembrar do período de mobilização para a eco-92, onde as universidades entraram em uma competição saudável em termos de diligência na instalação de seus primeiros servidores institucionais de email. Naquele momento, a internet nascia sob os auspícios da institucionalidade.​

Os problemas da Internet certamente tem múltiplas causas e ingredientes, mas na perspectiva do Instituto Brasileiro de Museus, apresentam os contornos de uma crise de institucionalidade. Isto porque tecnologias que realizam a mediação de relações sociais, como a Internet, de maneira intrínseca criam instituições. ​

Um mecanismo de coordenação que possibilita a ação coletiva, com capacidade de processamento de informações para resolver problemas cada vez mais complexos, independentemente de ser apoiado ou não por tecnologia da informação, é uma instituição.

Política Pública vs. Lógica dos Monopólios​

Memória da “Declaração de Independência do Ciberespaço” e defesa de ausência de governos​

Anos depois:​
- Vazio regulatório favoreceu monopólios de tecnologia e capital especulativo​

Encruzilhada:​
- Política que favorece o interesse comum e novas institucionalidades​
- vs. inação que deixa a web ao sabor de grandes empresas estrangeiras​

Nos primórdios da Internet, houve uma corrente de ‘hackers’ que advogou a total ausência da atuação de governos no ambiente digital. Isto aconteceu com a publicação da Declaração de Direitos do Ciberespaço (A Declaration of the Independence of Cyberspace). Os últimos 20 anos parecem indicar que a ausência da política pública somente favoreceu a tomada da web pelos interesses do capital especulativo, e dos monopólios transnacionais. ​

“Governos do Mundo Industrial, vocês gigantes aborrecidos de carne e aço, eu venho do Ciberespaço, o novo lar da Mente. Em nome do futuro, eu peço a vocês do passado que nos deixem em paz. Vocês não são bem-vindos entre nós. Vocês não têm nenhuma soberania onde nos reunimos.” (Davos, Fev / 1996)

A decisão crucial está entre a política que defende o interesse comum e deliberadamente favorece a emergência das novas institucionalidades digitais na rede, e a política cega que por inação permite que a evolução do ambiente digital ocorra de maneira aleatória, ao sabor dos interesses das grandes empresas estrangeiras de tecnologia.​

Poderíamos talvez imaginar uma “Declaração por um Ciberespaço de Interesse Público”, para se contrapor à declaração do John Barlow nos anos 90.

O App como​ Estratégia de Adoção​

Desafio:​
- Transição de plataformas centralizadas para o ambiente federado​

Parceria com Instituto NewsMast:​
- Desenvolvimento de apps comunitários integrados ao Fediverso​
- Integração com WordPress e instância Mastodon​

Insight de Michael Foster:​
- Para tecnólogos, tudo começa no servidor/protocolo​
- Para comunidades brasileiras, tudo começa no app​

Aqui eu quero mencionar um último desdobramento dos experimentos do Ibram com o Fediverso, que surgiu como uma oportunidade muito interessante.

O grande desafio é como encaminhar a transição do ambiente centralizado, proprietário, para o ambiente descentralizado, que estabelece responsabilidades distribuídas, e estabelece um papel ampliado para as instituições que promovem acesso ao conhecimento.​

Nos últimos 2 anos fizemos alguns experimentos, e recentemente estivemos em contato com Michael Foster, da NewsMast Foundation. Trata-se de uma organização dedicada ao desenvolvimento da WebSocial, e que oferece a possibilidade de criação de apps comunitários para organizações interessadas em explorar o Fediverso. ​

O aplicativo trabalha integrado ao WordPress, e promove o engajamento com a comunidade com base em uma instância Mastodon. Ou seja, a partir da parceria com o Instituto NewsMast, o Ibram planeja impulsionar a estratégia de ocupação do Fediverso pelos museus brasileiros.​

O Michael Foster, idealizador do projeto, costuma dizer que o Fediverso é um ambiente determinado pela tecnologia, onde tudo começa com um servidor, ou mesmo um protocolo. Entretanto, não é assim para as pessoas em geral, ou para as comunidades em geral. Para comunidades e pessoas, especialmente no Brasil, os espaços sociais começam com um app.​

O app do Ibram nasce a partir do conjunto de usuários do Forum (WordPress) que desenvolveu de forma participativa o Plano Nacional Setorial de Museus – PNSM, e se acopla à instância do Fediverso (social.museus.gov.br) onde pretendemos oferecer aos museus brasileiros a oportunidade de criação de contas institucionais. Se tudo correr dentro do planejado, no início de 2026 lançaremos o app “Museus no Fediverso” nas lojas Android e Apple.

Síntese​

Museus como laboratórios de:​
- Memória digital pública​
- Governança democrática da web​

Software livre (Tainacan, WordPress, ActivityPub) como base de soberania digital​

Fediverso como alternativa institucional às plataformas centralizadas​

Estratégia integrada possível:​
- Ibram + universidades + apps comunitários + pacote "CivicApps"​

A tecnologia em rede que media grande parte de nossas vidas é uma engenharia social — o que significa que decidir como ela funciona é (ou deveria ser) uma questão política. Se quisermos ter alguma esperança de que esses espaços coletivos digitais vão resultar em um mundo que vale à pena, precisamos construir nossas políticas para Internet de acordo com princípios institucionais sólidos.

Importa para os museus, por exemplo, que se houver um serviço de rede social que se disponha a abrigar instituições de memória de interesse público, que os dados da interação dos museus com seu público interessado fique também preservado, como acervo digital, e para pesquisa.

O Ibram entende que os museus brasileiros tem uma contribuição a dar na reflexão sobre o futuro do ambiente digital, especialmente no que se refere à questão da memória digital.

Agradecendo a oportunidade, encerramos a nossa apresentação.

Um Guia de Entrada no Fediverso

O “Guia de Entrada para o Fediverso”
lançado pelo Ibram por ocasião de evento, em 03/12

Como resultado desta reflexão interna do Ibram-Museus, e em apoio à realização do 1º WebSocialBR, o Fórum do Fediverso Brasileiro lançou o “Guia de Entrada para o Fediverso“. Trata-se de um livreto digital com a informação básica para todos que tenham interesse em experimentar o universo das redes sociais descentralizadas. Queremos assim, convidar você a conhecer esta alternativa à captura promovida pelas plataformas centralizadas e seus algoritmos — faça o download do Guia e dê os seus primeiros passos no Fediverso.

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